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PSA 182 - Pesadelo nos Céus (Relato de Acidente da Blackbox do Jetsite)

Relato de Acidente da Blackbox do Jetsite

O dia 25 de setembro de 1978 raiou como uma gloriosa manhã de outono, típica do sul da Califórnia. Brisa suave, sol brilhando na cidade de San Diego, céus infinitamente azuis. "Uma perfeita manhã para voar", devem ter pensado o Instrutor de voo do Gibbs Flite Center, Martin Kazy, 32 anos, e seu aluno, David Boswell, 35 anos. Boswell empurrou a manete do Cessna 172 Skyhawk prefixo N7711G, e segundos depois decolava do aeródromo de Montgomery Field, para mais um vôo de instrução para a obtenção de sua carteira de voo por instrumentos, o certificado IFR - Instrument Flight Rules.



Boswell queria um dia ser comandante de jatos comerciais. Jatos como o Boeing 727-200 da Pacific Southwest Airlines (PSA) que, naquele exato instante, vinha em aproximação para pouso no aeroporto internacional de San Diego, conhecido como Lindbergh Field. Naquela manhã o Boeing 727-200 (prefixo N533PS) havia partido às 07h20 de Sacramento e fez uma escala em Los Angeles, de onde decolou as 08h41 para San Diego, destino final do voo 182.

A tripulação do 727 era composta por profissionais experientes. Comandante James McFeron, 42 anos, 14.000 horas e 12 anos no comando dos 727; Primeiro Oficial Robert Fox, 38 anos, 10.000 horas de voo, metade delas nos 727; Engenheiro de vôo Martin Wahne, 44 anos e nível de experiência comparável ao de Fox. Quatro comissárias cuidavam dos 128 passageiros, um deles um comandante da própria PSA que ocupava um dos jumpseats na cabine de comando do Boeing. McFeron operava o rádio e atuava como assistente de seu Primeiro Oficial, que naquela etapa pilotava o Boeing.

O Cessna 172 havia sido autorizado pelo controle de San Diego a realizar aproximações por instrumentos usando os sistemas de ILS de Lindbergh Field. O Cessna já havia executado uma aproximação pela cabeceira 09 e arremetido. Em seguida, fez curva à esquerda e entrou novamente na perna do vento para uma segunda aproximação por instrumentos para a pista 09. O Skyhawk executou então a segunda aproximação e arremeteu por volta das 08h57. Desta vez, porém, foi instruído a manter a proa 070, ficar abaixo de 3,500 pés (em regime visual) e, em seguida, contactar a freqüência de aproximação para San Diego. San Diego operava na cabeceira oposta à 09, a pista 27.

Naquele momento, o Cessna deveria entrar no tráfego e fazer sua terceira aproximação pela cabeceira ativa do aeroporto. O Cessna teria então que voar em meio aos jatos comerciais em aproximação para pouso, como o voo 182. Naquele momento, o trijato cruzava 5.000 pés e seguia o rádio farol de Mission Bay. Vamos agora para a cabine do Boeing 727, acompanhar os últimos minutos do vôo 182 da PSA.

O Acidente do Voo PSA 182

APP: Controle de aproximação de San Diego
SAN: Torre do aeroporto Lindbergh - San Diego
Cap: Comandante do voo 182
F/O: Primeiro Oficial
F/E: Engenheiro de Voo
Cap 2: Comandante sentado no Jumpseat
N7711G: Cessna 172 Skyhawk

O Boeing 727 foi instruído pelo controle de aproximação para entrar na seqüência de pouso e voar na perna do vento. O Boeing recebeu a seguinte instrução às 08h59, alertando para a presença de uma aeronave de pequeno porte, que cruzava o caminho do Boeing. Não se tratava, porém, do N7711G, e sim de outra aeronave de pequeno porte.

APP: PSA 182, tráfego às 12 horas (diretamente à frente), uma milha (de distância), no rumo norte.
Cap: Ok, estamos observando.

Mais alguns segundos se passaram, e o controle de aproximação de San Diego alertou o voo 182 sobre a presença do Cessna 172:

APP: PSA 182, tráfego adicional às 12 horas, três milhas (de distância), ligeiramente ao norte do aeroporto, no rumo nordeste, um Cessna 172 em regime VFR, cruzando 1.400 pés e subindo.
F/O: Ok, já avistamos esse também.

Nesse mesmo instante, o Cessna 172 chamou o controle de aproximação e informou sua posição. Foi instruído a manter a proa 070 e manter-se abaixo de 3,500 pés até ser vetorado para entrar na seqüência de tráfego. O Piloto-instrutor do Cessna leu as instruções de volta corretamente, mas prosseguiu subindo num rumo diferente do instruído. Ele voava na proa 090 ao invés da 070. Essa mudança de proa, mais do que um pequeno deslize, teria conseqüências terríveis. O controle de aproximação, por via das dúvidas, achou prudente reportar mais uma vez ao PSA 182 a presença do Cessna na sua proximidade.

APP: PSA 182, tráfego às 12 horas, três milhas, agora cruzando 1.700 pés.
Cap: Tráfego avistado.
APP: Ok, senhor, mantenha separação visual e chame a torre Lindbergh em 133.3. Tenha um bom dia.

Eram exatamente 09h00:34. Em seguida, o controle de aproximação chamou o Cessna e informou da presença do Boeing 727 da PSA.

APP: N7711G (prefixo do Cessna), tráfego a duas milhas, às seis horas (atrás de você) rumo leste, um jato da PSA em aproximação para Lindbergh, cruzando 3,200 pés e descendo, tem você avistado.

N7711G: Ok, ciente do tráfego, 11G.

O Comandante McFeron mudou a freqüência para a torre do aeroporto e reportou sua posição e altitude. O Cessna permaneceu na freqüência da aproximação. A partir desse instante, não ouviu mais nenhuma troca de mensagens entre o Boeing e o solo.

Cap: Torre Lindbergh, PSA 182 na perna do vento.

SAN: PSA 182, Torre Lindbergh, ah, tráfego à sua frente, um Cessna, a uma milha de distância.

McFeron procurava avistar o pequeno Cessna à sua frente. Comentou com os outros ocupantes da cabine:

Cap: (hesitante) É aquele alí que estamos vendo(sic)?
F/O: Sim, mas não estou vendo ele agora.

McFeron respondeu então à torre do aeroporto, de forma nada conclusiva:

Cap: Ok, nós tínhamos o Cessna avistado um minuto atrás.

SAN: PSA 182, roger.
Cap: Eu acho que já passamos por ele à nossa direita.

Segundos depois, McFeron comentou com seus colegas, ainda procurando o Cessna pelas janelas do Boeing.

Cap: Ele estava por aqui há um minuto atrás.

A torre então perguntou quantas milhas mais o Boeing precisaria para entrar na reta final, pois havia na posição de espera na cabeceira 27 outro jato da PSA aguardando para decolar. McFeron indicou que voaria mais quatro milhas antes de entrar na reta final. Em seguida, a torre autorizou a decolagem do outro 727 da PSA e o pouso do vôo 182.

SAN: PSA 182, livre pouso.
Cap: Ok, PSA 182, livre pouso.

Na cabine do Boeing, os tripulantes ainda procuravam através das janelas pelo Cessna. O primeiro oficial, mais concentrado na leitura dos instrumentos, perguntou aos colegas, desconfiado:

F/O: Nós estamos livres desse Cessna?
F/E: Supostamente, sim.
Cap: Acho que sim!
Cap 2: Espero que sim!
Cap: Antes de entrarmos na perna do vento eu o vi, na posição de uma hora. Ele provavelmente já ficou para trás.

Ledo engano. Naquele instante, nos radares do centro de aproximação, o sistema automático de controle de conflito de tráfego, disparou um alarme: o PSA 182 e o N7711G voavam muito próximos. Porém, como ambas as tripulações haviam reportado que estavam visuais, monitorando e cientes de suas respectivas presenças e posições relativas, o controlador considerou normal o alerta. Afinal, a cada dia, soavam em média 13 alarmes como aquele, conseqüência do altíssimo volume de tráfego nos céus californianos.

Por precaução, o controle chamou o Cessna e avisou mais uma vez da presença do Boeing 727 nas suas proximidades. Não obteve resposta à sua chamada: naquele instante, os ocupantes do Cessna já não podiam mais responder. Estavam mortos, obliterados em pleno céu pela colisão com o Boeing.

F/O: (alarmado) Ei, tem um aí embaixo. Eu estava olhando para aquele outro ali!
Cap: Oooopa!
F/O: Aghhhhh!
Cap 2: Shit!

Para horror de dezenas de testemunhas, que acompanhavam no céu cristalino a trajetória cada vez mais próxima dos dois aviões, precisamente à 09h01:47 da manhã, o Boeing colidiu com o Cessna, batendo por trás com a raiz de sua asa direita na cauda do Cessna, imediatamente destroçado pelo impacto. O Cessna desintegrou-se e seus destroços começaram a cair sobre o subúrbio de North Park.

Instantaneamente , chamas irromperam da asa do Boeing. Destroços penetraram o motor três, que perdeu potência. Além disso, a parte dianteira da asa, bem como boa parte dos controles aerodinâmicos, os flaps e slats, foram destruídos, criando em relação à outra asa uma assimetria de sustentação que desestabilizou o Boeing 727.

Cap: Calma, calma, calma! O que temos aí?
F/O: Tá ruim. Fomos atingidos, cara, fomos atingidos!
Dez segundos após o impacto, o comandante McFeron chamou a torre do aeroporto de San Diego, num tom de voz inacreditavelmente calmo diante das circunstâncias. Simplesmente disse assim:

Cap: Torre, estamos caindo, este é o PSA.

Num tom de voz igualmente calmo, como se a mensagem recebida fosse habitual, o controlador respondeu:

SAN: Ok, vamos acionar o equipamento (de emergência) para vocês.

Gradualmente, o ângulo de descida do Boeing aumentou. O trijato mergulhava em chamas com seu nariz apontando para o solo, como um cometa, uma flecha de fogo que partia em velocidade crescente contra o calmo subúrbio residencial de North Park. O trijato inclinava-se cada vez mais para a direita, até chegar a quase 50º em relação ao solo.

Desastre Aéreo PSA 182


Na cabine de comando, os microfones ainda registraram mais dez segundos de voo, até o Boeing colidir com o solo.

09h01:57 - Cap: Whoaaa!
09h01:57 - Som do alarme de estol.
09h01:58 - Cap: Arghhh, é isso, é isso...
09h02:00 - F/E: Bob...
09h02:01 - F/O: Shit!
09h02:03 - Cap: (falando no sistema interno de aviso aos passageiros) - Posição de impacto!
09h02:05 - F/O: Ah, querida... Ma, eu te amo...

O último som gravado na cabine foi a curta despedida do primeiro oficial, Robert Fox, para sua jovem esposa, Marianne (Ma). No segundo seguinte, o Boeing explodiu sobre o pacato bairro residencial de North Park.

Pelo ângulo agudo em que bateu no solo, pela velocidade em que voava e pela presença de várias toneladas de combustível nos tanques, a explosão foi devastadora. Em segundos, seus destroços atingiram nada menos que 22 casas em quatro quarteirões. Postes e fios tombaram, cortando a luz elétrica da região.O impacto contra o solo, de tão forte, ficou registrado no Centro de Estudos de Abalos Sísmicos de San Diego. Em segundos, dezenas de corpos e restos humanos espalharam-se pela área, caindo sobre jardins, telhados e árvores. Em menos de um minuto, morreram 146 pessoas: os dois a bordo do Cessna, os 135 ocupantes do Boeing e mais 9 pessoas atingidas em solo.

Não foi a primeira colisão em voo nos céus californianos, nem a última. Anos depois, em 1987, outro Cessna colidiu com um DC-9 da Aeroméxico, em aproximação para o aeroporto de Los Angeles. Essa outra tragédia aérea você vai conhecer futuramente, aqui mesmo no Blackbox do Jetsite.

Aeromexico 498 - Choque no Céu

Fotos e Vídeos do Voo PSA 182

CVR (Gravador de Voz da Cabine)

PSA 182 Air Crash Disaster

PSA 182 Acidente Desastre Pacific Southwest Airlines

PSA 182 Air Crash Disaster

PSA 182 Acidente Desastre Pacific Southwest Airlines

PSA 182 Air Crash Disaster

PSA 182 Acidente Desastre Pacific Southwest Airlines


Fonte:
http://www.sdpolicemuseum.com/PSA-Flight-182.html
https://en.wikipedia.org/wiki/PSA_Flight_182

Fonte: Este relato foi extraído do extinto site Jetsite, do grande Gianfranco "Panda" Beting, da seção Blackbox, com fins de não se deixar perder o conteúdo daquele fabuloso site, nossa principal fonte de referência no mundo da aviação nos anos 2000. O texto é do Panda, algumas fotos e vídeos colocamos a parte, para contribuir com mais dados e informações.

US 427 - Mergulho Fatal (Relato de Acidente do Jetsite)

Relato de Acidente Aéreo do Jetsite

O dia 8 de setembro de 1994 marcou a USAir como o seu pior momento. Nessa data, o voo 427, operado pelo 737-300 de prefixo N513AU, caiu minutos antes do pouso em Pittsburgh, Pennsylvania. Aquele fim de tarde encerrava um claro e lindo dia de verão. A temperatura era amena. A visibilidade era ilimitada e os ventos sopravam calmamente. A tripulação técnica estava relaxada, a atmosfera a bordo era de total calma. Ouve-se até, em determinado momento na gravação da caixa-preta, o comandante bocejar. Um voo que seria pura rotina, até que subitamente, tudo mudou.




Acidente com o US 427 da USAir

Vamos entrar a bordo da cabine de comando do Boeing no exato instante em que faltam dezoito minutos para o fim do voo 427. O primeiro-oficial está pilotando o Boeing 737, o comandante está ajudando na operação e cuidando do contato com o solo via rádio.

Cap: comandante
Cap-RDO: Transmissão de rádio do comandante ao solo.
Cap-PA: Transmissão do comandante aos passageiros e comissários.
F/O: primeiro-oficial
F/A: comissária
APP: Centro de aproximação de Pittsburgh

F/A: Vocês querem beber alguma coisa?
Cap: Ah, sim, eu poderia beber alguma coisa que ainda esteja aberta. Ou uma água ou um suco.
F/O: Ah, eu divido com ele o que tiver sim. Eu bebo o mesmo que ele.
F/A: Querem que eu prepare meu coquetel frutado especial?
Cap: Quão frutado ele é?
F/A: Por que você não apenas experimenta?
F/O: Ok, eu serei a cobaia.

A porta se fecha enquanto a comissária volta para a galley para preparar seu coquetel. O vôo 427 é instruído a reduzir sua velocidade para 210 nós e manter 10.000 pés de altitude. Em seguida, o vôo é instruído a contactar a freqüência de aproximação de Pittsburgh em 121.25.

Cap: Ele disse 210?
F/O: 210? Eu entendi 250.
Cap: Acho que me enganei então.
APP: USAir 427, curva à esquerda, proa 100.
Cap-RDO: Curva a esquerda proa 100, USAir 427.

A porta se abre: é a comissária que retorna com seu coquetel.

F/A: Aqui está.
Cap: Ok.
F/O: Ah, ótimo, obrigado, obrigado.
F/A: Eu não provei, não sei se ficou bom ou não.
Cap: Mmm, está ótimo.
F/O: Está mesmo ótimo.
F/A: Então está ótimo.
F/O: É diferente. E ficaria ainda melhor se você colocasse um pouquinho de rum nele.
F/A: Com certeza.

APP: USAir 427, proa 100, vetoração para ILS da pista 28 direita, velocidade 210.
F/O: Qual a velocidade?
Cap-RDO: Ok, estamos reduzindo para 210, proa 160, descendo para 10.000 pés, USAir 427.
Cap: Que pista ele disse?
F/O: 28 Direita.

Cap: (dirigindo-se à comissária) - Muito bom seu coquetel. Vai grapefruit nele?
F/A: Não.
F/O: Framboesa?
F/A: Você adivinhou pela cor.
Cap: E o que mais?
F/O: Ahn, Sprite?
F/A: Diet Sprite.
F/O: Ah!
F/O: Ficaria melhor se você fizesse com Sprite normal.
Cap: Sim. E leva mais alguma coisa?
F/A: Mais uma.
F/O: Suco de laranja?
F/A: Adivinhou!
F/O: Ah!
F/A: Suco de framboesa, Sprite e suco de laranja.
F/O: Muito bom.
F/A: É diferente.
Cap: Eu sempre misturo suco de laranja com framboesa. Eu gosto.
F/A: Ok, de volta ao trabalho.

A comissária sai da cabine de comando. A porta se fecha e os pilotos retomam a concentração na operação da aeronave.

F/O: Eu acho que vamos pousar pelo lado direito.
APP: USAir 427, desça e mantenha 6.000 pés.
Cap-RDO: Descendo e mantendo 6 mil, USAir 427.
F/O: Minha mulher iria gostar muito desse coquetel.
Cap: Suco de framboesa, Sprite e suco de laranja.
F/O: Ok, vamos iniciar o check?

Os dois pilotos iniciam os checks pré-pouso. O controle solicita uma curva à esquerda na proa 140, e redução de velocidade para 190 nós. O comandante aciona o flap e liga o sinal de "apertar cintos". Então ele se lembra que não fez seu "speech" final.

Cap: Uh, ainda não dei tchauzinho para os passageiros.

Cap-PA: Amigos, aqui é o comandante novamente. Nós devemos pousar em mais 10 minutos. Céus azuis, temperatura 75ºF (aprox. 24ºC). Ventos sopram de oeste com 10 milhas de intensidade. Nós apreciamos muito a escolha de vocês por voarem com a USAir e esperamos que o vôo tenha sido agradável. Esperamos vê-los em breve em um de nossos vôos. Agora gostaria de pedir aos nossos comissários que preparem a cabine para o pouso. E por favor, verifiquem se os cintos de segurança estão afivelados. Obrigado.

Cap-RDO: Controle, você autorizou a pista 28 esquerda para o USAir 427?
APP: USAir 427, pista 28 direita.
Cap-RDO: Vinte e oito direita, obrigado.
F/O: Vinte e oito direita, a que nós esperávamos. Já armei o auto-brake para o pouso.
Cap: Descendo de sete para seis mil pés.
F/O: De sete para seis.
Cap: Rapaz, eles (controle de aproximação de Pittsburgh) sempre retardam muito as chegadas por aqui, não?
F/O: Esse sol vai estar bem na nossa cara, como naquela decolagem de Cleveland, ontem. Eu vou fechar meus olhos. (Risos). Você grita quando estivermos perto do chão.
Cap: Okay. (Risos)
APP: USAir 427, curva à esquerda proa 100. Você terá tráfego à duas horas, um Jetstream a seis milhas, no rumo norte, subindo de 3.300 pés para 5 mil pés.
Cap-RDO: Tráfego avistado, girando proa 100, USAir 427.
F/O: Ah, sim, estou avistando o Jetstream.

Os gravadores de cabine captam o som dos motores aumentando potência. O Boeing inicia uma curva suave, de 15 graus, girando dois graus por segundo. Porém, nesse exato momento, o voo 427 entra na esteira de turbulência gerada por um Boeing 727-200 da Delta Air Lines, que havia passado por aquela mesma posição 69 segundos antes. No segundo seguinte, o comandante solta um rápido palavrão. Um voo até então absolutamente normal começa a se transformar em tragédia.

Cap: Merda!
F/O: O que?

A asa esquerda do boeing afunda 18º abaixo da linha do horizonte em apenas 3 segundos. O primeiro-oficial aplica sobre o manche um comando contrariando esse afundamento de asa. Exatamente às 19h03:01, a asa esquerda estava a 30º abaixo da linha do horizonte. Nesse instante, o nariz do 737 começa a afundar. O Boeing inicia um giro rapidíssimo em seu eixo longitudinal. Numa questão de segundos, o Boeing vira de dorso, de barriga para cima e seu nariz afunda. São 19h03:07. A asa esquerda já está a 70º da vertical e o nariz a 20º abaixo do horizonte. O Boeing está a 1.200m de altura sobre o terreno quando estola.

Os microfones de cabine captam agora o som do alarme de piloto-automático sendo desligado pela ação do primeiro-oficial. Os sons de ambos os pilotos arfando e grunhindo pela surpresa e pelo esforço necessário para buscar equilíbrio também é captado. O jato já mergulha rumo ao solo, a uma velocidade de 300 milhas por hora e acelerando. Faltam nesse instante 16 segundos para o voo 427 encontrar seu destino final.

Cap: Ôoooa! Se segura! Se segura!
F/O: Ah, merda!

Os microfones registram os alarmes de altitude soando e o som do stick-shaker, o dispositivo de proteção de estol entrando em ativação. A cabine do Boeing passa a ser um lugar infernal, com vários alarmes soando juntos ao mesmo tempo. Em segundos, o voo 427 passa da rotina ao pavor. Os dois pilotos na cabine de comando estão tão surpresos quanto assustados.

Cap: Que diabos...
F/O: Oh.
Cap: Oh, Deus, oh, Deus.
APP: USAir...
Cap-RDO: 427, emergência!
F/O: (gritos)
Cap: Puxe!
F/O: Oh!
Cap: Puxe! Puxe!
F/O: Deus!
Cap: (gritos)
F/O: Nãoooo!

19h03:25 - Fim da gravação.

O Boeing bate num descampado na comunidade de Aliquippa, Pennsylvania, num ângulo de 83º em relação ao horizonte, ou seja, praticamente na vertical. A velocidade no momento do impacto era de 299 milhas por hora. No local em que o Boeing colidiu contra no solo, criou com sua inércia uma cratera de mais de 3 metros de profundidade, de onde milhares de pequenos fragmentos fumegantes seriam resgatados nos dias seguintes. A desintegração foi praticamente total, e um violento incêndio seguiu-se à queda, carbonizando as poucas partes ainda reconhecíveis da estrutura do jato.

As investigações subsequentes mostraram que o Boeing 737-300 estava configurado com flap 1; slats, reversores dos motores e trens de pouso estavam guardados, numa condição compatível com a fase de voo em que se encontrava. O Boeing, matrícula N513US, levava 127 passageiros, dois pilotos e três comissários. Todos os ocupantes tiveram morte instantânea.

Pelos três meses subsequentes à tragédia, nada foi divulgado. E o NTSB, National Transportaion Safety Board, órgão responsável pela investigação de acidentes aeronáuticos, levaria ainda três longos anos estudando o acidente, para chegar à conclusão de que o desastre do voo USAir 427 "não teve sua causa definida". Foi a primeira vez, ao longo de décadas de investigações, que as causas de um desastre aéreo de grandes proporções foram oficialmente consideradas como "indefinidas."

A primeira hipótese teria sido o encontro com a esteira de turbulência de uma aeronave Boeing 727-200. Essa esteira teria desequilibrado o Boeing e provocado seu mergulho. No entanto, a aeronave mais próxima encontrava-se 4 e meia milhas distante, e voando 1.500 pés acima do vôo 427. O NTSB trabalhou então com outra teoria: a de que o encontro com a esteira de turbulência gerada por outra aeronave teria sido exacerbado por um movimento abrupto do leme da aeronave. Esse movimento abrupto teria desestabilizado o Boeing, que então teria entrado no mergulho de onde não mais sairia.

Outra hipótese levantada seria a de uma falha de projeto do sistema de compensação no leme do Boeing, que teria inadvertidamente defletido a superfície, com tal severidade, que seria capaz de desestabilizar o jato. O Boeing, no entanto, estava a 2.000 metros de altura quando o controle foi perdido. O NTSB acredita que haveria altitude e tempo para uma correção. O porque dos pilotos não haverem conseguido restabelecer o controle do Boeing também permanece motivo de dúvida e especulação.

O fato é que o Boeing 737 continua sendo a aeronave a jato mais vendida da história, devendo em breve romper a casa dos 6.000 fabricados. Se, de fato houve um problema de projeto no leme dos 737, então muitos milhões terão de ser gastos em exames e eventuais reparos dessa imensa frota da jatos 737 em operação. Até lá, a tragédia de Aliquippa continuará sem nenhuma explicação definitiva.

Fotos do Acidente com o Voo 427 da USA Air

Acidentes e Desastres aéreos
USA Air Flight 427 Air Crash

Queda de avião

Fonte: Este relato foi extraído do extinto site Jetsite, do grande Gianfranco "Panda" Beting, da seção Blackbox, com fins de não se deixar perder o conteúdo daquele fabuloso site, nossa principal fonte de referência no mundo da aviação nos anos 2000. O texto é do Panda, algumas fotos e vídeos colocamos a parte, para contribuir com mais dados e informações.